Conto novo: Serra do Cachimbo, 1986
Serra do Cachimbro, 1986
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Continua...
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11 de Setembro de 2007
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Nós estávamos dispostos a eliminar as armas de destruição em massa. Compúnhamos uma equipe secreta, pequena e decidida a desaparecer com as ogivas nucleares que estavam guardadas na base de Los Alamos, a poucos metros de nossas salas de pesquisa. Um dia, um de nossos cientistas teve a brilhante idéia de reprogramar as rotas de todos os mísseis, enviando de uma só vez as 15 mil ogivas para o espaço. A idéia era simples, como as melhores idéias devem ser. Através do computador central do Pentágono, reprogramaríamos todo o sistema de alvos que o governo americano identificara durante todos os anos de corrida nuclear e também os novos trajetos, criados após o 11 de setembro. Alvos como a Arábia Saudita, o Afeganistão, o Brasil, a Coréia do Norte, a Venezuela e a China.
O plano foi minuciosamente elaborado durante sete anos. Durante o período não conversávamos muito a respeito. Uma única reunião desde que tivemos a idéia foi marcada e durante doze horas, traçamos as metas a alcançar, distribuímos as tarefas que cada um deveria desenvolver e também um prazo para a conclusão dos trabalhos. Nos sete anos, apenas uma única reunião extraordinária foi marcada às pressas e para discutir o problema do acesso a senha de comando que ativava as ogivas, senha esta, conhecidamente nas mãos do Presidente dos Estados Unidos da América, o Presidente Bush.
Para resolver a questão, filiamo-nos ao partido republicano ao qual o presidente era vinculado. Assim, com nosso renome e nosso empenho para propagar as idéias armamentistas daquele governo, em sua reeleição no ano de 2004, conseguimos indicar um assessor especial para acompanhar o presidente nos debates, viagens e reuniões que tinham o armamento nuclear como pauta, e o indicado par tal tarefa, uma tarefa evidentemente suicida, acabou sendo eu, Carlo Giuliani, PHD em fissão nuclear, chefe do departamento de pesquisa de Los Alamos.
Durante os anos de nossa conspiração, nos encontrávamos diariamente no laboratório mas nunca tratávamos do assunto, e as ocasiões em que isto ocorria eram em datas de congraçamento como o 4 de julho ou o dia de Ação de Graças. Nestas ocasiões, checávamos os protocolos de segurança, tanto os nossos quanto os do governo, as vezes nós mesmos conseguíamos apresentar ações de segurança que o governo aceitava. Da última vez, apresentamos um protocolo que se aproximava da perfeição, que a princípio elevavam a um grau quase impossível a quebra da segurança. O detalhe óbvio é que nós mesmos nos tornaríamos os únicos a saber como romper com o sistema, o que de fato ocorreu.A cada dia que passa, a idéia de que este mundo não é possível e que um outro, melhorado, provavelmente jamais chagará, só demonstra que é realmente a distopia - o inferno do real, caótico, truculento e neofascista - e não a utopia – o paraíso, a liberdade impossível - o cenário mais plausível para o desfecho da saga humana sobre a terra.
Vejamos os últimos exemplos de carnificina perpetrados pelos norte-americanos no Iraque, na ocasião da invasão de Faluja, vejamos a invasão e falsa redemocratização daquele país, vejamos o que fizeram em Guantanamo, vejamos o recrudescimento da cruzada de Bush - agora reeleito - ele que afirma sentir firmemente a intervenção divina em suas decisões. Vejamos as táticas do império, suas guerras preventivas, a coação pelo medo, seu desprezo pelo meio ambiente.
Vejamos a grande onda de terror que sacode o mundo.Vejamos o que fazem em Davos, na Suíça, reunindo os países ricos e as mega-corporações para se banquetear diante da miséria de CINCO BILHÕES de homens, mulheres, velhos e crianças. Vejamos o que faz a ONU, o FMI e o Banco Mundial. Vejamos o muro que Israel constrói, isolando os Palestinos.
Vejamos o Papa condenando mais uma vez o aborto e a camisinha enquanto a população da África desaparece e a anti-propaganda da AIDS afirma que mais ninguém morre de HIV. E no Brasil, vejamos como se manipula a esperança para conquistar o poder, vejamos Lula e seu avião sobre nossas cabeças, vejamos o fome zero e o discurso vazio, vejamos os juros de Meireles e Palocci, vejamos o agronegócio e os transgênicos, vejamos a falácia da reforma agrária.
Vejamos a corrupção endêmica que assola os partidos políticos, vejamos a capitulação da grande mídia, ávida por verbas federais, paparicando o presidente da república.
Vejamos agora o quintal de casa, vejamos o assassinato de Celso Daniel e seu aniversário de 3 anos, ignorado por quase todos! Vejamos a lenda urbana que se cria em torno da tragédia, a lenda que não aceita a explicação político/policial de que aquele não foi um crime comum, vejamos, vejamos e vejamos.
É verdade, parece que tudo caminha para a vitória da dor, da fome, do esquecimento, da solidão, da manipulação e da escravidão. Estes elementos se firmam como marco histórico e eterno da impossibilidade da raça.
Em que acreditar se tudo parece não ter mais sentido? Vejamos a ética, que é a estética do espírito, por onde caminha? E a lógica religiosa? amalgamada na tradição judaico-cristã, hoje também associada a ação rolo compressor do capitalismo, dissimulado neste famoso estado democrático de direito...
Não é mais possível crer que a democracia construa a grande saída. Já não é mais possível crer na disputa eleitoral como uma forma de se construir uma nação. Quem crê na transformação social através do pleito? E a revolução? Quem crê que a tomada do poder pelo povo ou por uma insurgência revolucionária ocorrerá e dará resposta à demanda de liberdade, autodeterminação e progresso social a que todos anseiam? Pior ainda, quem garante que uma revolução não servirá apenas para substituir os antigos donos do poder por novos opressores?
É meus amigos, a Revista SEM FUTURO é mensageira do caos, não tem resposta para tamanhos questionamentos, mas está aqui, alerta, itiando (andando, seguindo em frente) e videando (observando) as coisas do nosso tempo, afinal de contas já faz tempo que o terceiro mundo vai explodir. Quem estiver de sapato não sobra.
Vamos, vamos subverter!
Jairo Costa