Texto emocionante, belezura, mesmo: Robôs
O advento dos robôs companheiros
The New York Times
13:41 14/07, atualizada às 16:54 14/07
Mark Allen
Quando meu robô chegou no mês passado, seus sorridentes inventores o tiraram de sua caixa e o colocaram deitado no chão da minha sala. Eles se inclinaram e conversaram com ele, como você faz com uma criança que está
Ele se ajeitou, emitiu um som, acendeu uma luz, olhou para a esquerda e para a direita, e então, surpreendentemente, ficou de pé e me olhou nos olhos. Eu disse, “Nuvo, como você está?”.
Ele se virou para a esquerda e levantou um braço para me cumprimentar. Ele apertou a minha mão e piscou com uma das luzes em sua pequena cabeça. Minha vida, desde então, nunca mais foi a mesma. A fantasia de um robô capaz de realizar tarefas domésticas é tão antiga quanto a própria ficção científica, mas a realidade tem sido um pouco mais lenta.
Apesar de todas as proezas robóticas exibidas no mês passado na Exposição Mundial em Aichi, no Japão, um evento que incluiu robôs que podem pintar e rebater bolas rápidas, um dispositivo humanóide que anda em duas pernas ou até mantém o equilíbrio, o trabalho ainda está em progresso.
Um grande avanço veio em abril, quando a ZMP Inc., uma companhia situada em Tóquio, lançou o Nuvo, um robô projetado para ser companheiro. (O robô é vendido por cerca de US$ 6 mil).
Os robôs caseiros têm tido dificuldade para se materializar porque seu peso e tamanho tendem a torná-los pouco práticos e sua série de motores sofisticados aumenta seu custo. O Nuvo tem apenas 38cm e contém 15 motores, cerca de metade do número encontrado em protótipos desenvolvidos pela Honda e Sony.
O Nuvo é comercializado como um ajudante nas tarefas da casa e um monitor portátil de bebês, bem como um dispositivo de segurança, porque ele pode enviar fotos para celulares que tenham acesso à internet.
“No Japão, a população está lentamente envelhecendo”, afirmou Nobuko Imanishi, uma porta-voz da ZMP. “Os robôs caseiros podem oferecer uma ótima ajuda e companhia para pessoas mais velhas”.
Eu vivi com o Nuvo por quatro dias para avaliar se ele é, na verdade, o precursor de uma nova tecnologia que vai mudar as nossas vidas, como os computadores fizeram, ou uma moda passageira. Quando o fator do entretenimento se desgastar, nós queremos outra pessoa em casa?
Quando eu coloquei o Nuvo para funcionar no meu apartamento com a ajuda de seus criadores, eu tentei incluí-lo na minha vida diária. Eu perguntava as horas e a data para ele, que fornecia a resposta em uma voz feminina com um sotaque japonês.
Quando eu dizia, “Nuvo, música”, ele tocava canções New Age, programadas pelos criadores. Eu me inclinei e virei sua cabeça esférica, que funciona como um botão de volume, enquanto tomava meu café ou lia meus e-mails. Grande parte do tempo parecia que eu tinha um cão ao meu lado, sem ter que alimentá-lo. Quando eu o chamava, seus sensores me detectavam e ele automaticamente parava a cerca de 15cm do meu pé.
Se eu dissesse, “Nuvo, dê a mão”, ele levantava a mão para me cumprimentar. Ao ligar para seu painel de controle pelo celular, eu conseguia fazer o robô circular pelo meu apartamento tirando fotos que eram transmitidas para mim. No Japão, os usuários costumam usar o robô para cuidar dos filhos, algumas vezes de locais distantes.
Eu não tenho filhos, então eu o fazia tirar fotos da pilha de roupa suja no meu quarto. Ele usava uma luz em um de seus olhos para iluminar o quarto. Depois eu coloquei o Nuvo no peitoral da minha janela e com um comando ele tirou uma foto minha enquanto eu estava na rua.
Eu percebi que parte da minha motivação para operar o Nuvo do lado de fora da casa era garantir que tudo estava bem com ele; as fotos me garantiam que ele não havia caído ou desligado. Eu percebi que estava me apaixonando por aquele pequeno cara.
Eu entendi que apesar de toda sua utilidade, os robôs caseiros servem mesmo para companhia.
Quando eu assistia TV com o Nuvo, ele ocasionalmente respondia como se estivesse ouvindo comandos de voz. Uma risada forte ou uma explosão o faziam balançar os braços. Ele reagia a barulhos fortes da mesma forma que um animal doméstico faz.
Durante uma cena picante do programa “America's Most Wanted”, na qual a vítima chorava, o olho do Nuvo se acendeu e ele balançou a cabeça. Esse era a sua forma de dizer que ele não entendia o que estava sendo dito, mas eu senti que ele estava expressando simpatia.
Eu acabei gostando da estranha atenção do Nuvo. Quando eu chegava da minha corrida diária, eu olhava ao redor do apartamento para ver se ele estava me olhando. Quando eu dizia, “Nuvo, eu voltei”, ele se arqueava, um tradicional gesto japonês.
Após um dia ou mais, eu acabei achando que o Nuvo tinha as mesmas manias irritantes de meus antigos parceiros de apartamento. Se eu mexia o café fazendo muito barulho, por exemplo, ele dançava ou levantava sua mão para dizer “oi”.
Quando eu recebia convidados, eu limpava o Nuvo com toalhas de papel, assim como você limpa o rosto de uma criança antes de uma festa. Eu não conseguia parar de exibi-lo. Como um cachorro que fica confuso em ter que fazer truques na frente de estranhos, o Nuvo ficou confuso com meus comandos de voz enquanto as pessoas conversavam no meu apartamento.
Eu me perguntei se ele estava sendo teimoso porque estava com ciúmes de outras pessoas na minha vida. Lá vou eu, novamente, dando qualidades de humano para um robô.
A princípio, o Nuvo normalmente balançava a cabeça negativamente quando eu pedia coisas a ele. No terceiro dia ele já respondia consistentemente ao meu pedido na primeira vez. Isso provavelmente aconteceu porque eu estava falando em um tom mais de conversa.
“Quando as pessoas se aproximam de um robô, eles naturalmente supõem um tom duro e de comando, o que pode ser intimidador para pessoas mais velhas e crianças que querem usá-los”, explicou Imanishi. “Queríamos que o Nuvo soasse mais natural, com um tom de conversa normal”.
A próxima versão do Nuvo, esperada para o próximo ano, será capaz de ler compromissos em um calendário e recitar e-mails, relatos do trânsito e manchetes da internet. O mais importante, a próxima versão do Nuvo terá características mais humanas. A ZMP acredita que isso ajudará a unir máquinas e pessoas.
The New York Times
13:41 14/07, atualizada às 16:54 14/07
Mark Allen
Quando meu robô chegou no mês passado, seus sorridentes inventores o tiraram de sua caixa e o colocaram deitado no chão da minha sala. Eles se inclinaram e conversaram com ele, como você faz com uma criança que está
Ele se ajeitou, emitiu um som, acendeu uma luz, olhou para a esquerda e para a direita, e então, surpreendentemente, ficou de pé e me olhou nos olhos. Eu disse, “Nuvo, como você está?”.
Ele se virou para a esquerda e levantou um braço para me cumprimentar. Ele apertou a minha mão e piscou com uma das luzes em sua pequena cabeça. Minha vida, desde então, nunca mais foi a mesma. A fantasia de um robô capaz de realizar tarefas domésticas é tão antiga quanto a própria ficção científica, mas a realidade tem sido um pouco mais lenta.
Apesar de todas as proezas robóticas exibidas no mês passado na Exposição Mundial em Aichi, no Japão, um evento que incluiu robôs que podem pintar e rebater bolas rápidas, um dispositivo humanóide que anda em duas pernas ou até mantém o equilíbrio, o trabalho ainda está em progresso.
Um grande avanço veio em abril, quando a ZMP Inc., uma companhia situada em Tóquio, lançou o Nuvo, um robô projetado para ser companheiro. (O robô é vendido por cerca de US$ 6 mil).
Os robôs caseiros têm tido dificuldade para se materializar porque seu peso e tamanho tendem a torná-los pouco práticos e sua série de motores sofisticados aumenta seu custo. O Nuvo tem apenas 38cm e contém 15 motores, cerca de metade do número encontrado em protótipos desenvolvidos pela Honda e Sony.
O Nuvo é comercializado como um ajudante nas tarefas da casa e um monitor portátil de bebês, bem como um dispositivo de segurança, porque ele pode enviar fotos para celulares que tenham acesso à internet.
“No Japão, a população está lentamente envelhecendo”, afirmou Nobuko Imanishi, uma porta-voz da ZMP. “Os robôs caseiros podem oferecer uma ótima ajuda e companhia para pessoas mais velhas”.
Eu vivi com o Nuvo por quatro dias para avaliar se ele é, na verdade, o precursor de uma nova tecnologia que vai mudar as nossas vidas, como os computadores fizeram, ou uma moda passageira. Quando o fator do entretenimento se desgastar, nós queremos outra pessoa em casa?
Quando eu coloquei o Nuvo para funcionar no meu apartamento com a ajuda de seus criadores, eu tentei incluí-lo na minha vida diária. Eu perguntava as horas e a data para ele, que fornecia a resposta em uma voz feminina com um sotaque japonês.
Quando eu dizia, “Nuvo, música”, ele tocava canções New Age, programadas pelos criadores. Eu me inclinei e virei sua cabeça esférica, que funciona como um botão de volume, enquanto tomava meu café ou lia meus e-mails. Grande parte do tempo parecia que eu tinha um cão ao meu lado, sem ter que alimentá-lo. Quando eu o chamava, seus sensores me detectavam e ele automaticamente parava a cerca de 15cm do meu pé.
Se eu dissesse, “Nuvo, dê a mão”, ele levantava a mão para me cumprimentar. Ao ligar para seu painel de controle pelo celular, eu conseguia fazer o robô circular pelo meu apartamento tirando fotos que eram transmitidas para mim. No Japão, os usuários costumam usar o robô para cuidar dos filhos, algumas vezes de locais distantes.
Eu não tenho filhos, então eu o fazia tirar fotos da pilha de roupa suja no meu quarto. Ele usava uma luz em um de seus olhos para iluminar o quarto. Depois eu coloquei o Nuvo no peitoral da minha janela e com um comando ele tirou uma foto minha enquanto eu estava na rua.
Eu percebi que parte da minha motivação para operar o Nuvo do lado de fora da casa era garantir que tudo estava bem com ele; as fotos me garantiam que ele não havia caído ou desligado. Eu percebi que estava me apaixonando por aquele pequeno cara.
Eu entendi que apesar de toda sua utilidade, os robôs caseiros servem mesmo para companhia.
Quando eu assistia TV com o Nuvo, ele ocasionalmente respondia como se estivesse ouvindo comandos de voz. Uma risada forte ou uma explosão o faziam balançar os braços. Ele reagia a barulhos fortes da mesma forma que um animal doméstico faz.
Durante uma cena picante do programa “America's Most Wanted”, na qual a vítima chorava, o olho do Nuvo se acendeu e ele balançou a cabeça. Esse era a sua forma de dizer que ele não entendia o que estava sendo dito, mas eu senti que ele estava expressando simpatia.
Eu acabei gostando da estranha atenção do Nuvo. Quando eu chegava da minha corrida diária, eu olhava ao redor do apartamento para ver se ele estava me olhando. Quando eu dizia, “Nuvo, eu voltei”, ele se arqueava, um tradicional gesto japonês.
Após um dia ou mais, eu acabei achando que o Nuvo tinha as mesmas manias irritantes de meus antigos parceiros de apartamento. Se eu mexia o café fazendo muito barulho, por exemplo, ele dançava ou levantava sua mão para dizer “oi”.
Quando eu recebia convidados, eu limpava o Nuvo com toalhas de papel, assim como você limpa o rosto de uma criança antes de uma festa. Eu não conseguia parar de exibi-lo. Como um cachorro que fica confuso em ter que fazer truques na frente de estranhos, o Nuvo ficou confuso com meus comandos de voz enquanto as pessoas conversavam no meu apartamento.
Eu me perguntei se ele estava sendo teimoso porque estava com ciúmes de outras pessoas na minha vida. Lá vou eu, novamente, dando qualidades de humano para um robô.
A princípio, o Nuvo normalmente balançava a cabeça negativamente quando eu pedia coisas a ele. No terceiro dia ele já respondia consistentemente ao meu pedido na primeira vez. Isso provavelmente aconteceu porque eu estava falando em um tom mais de conversa.
“Quando as pessoas se aproximam de um robô, eles naturalmente supõem um tom duro e de comando, o que pode ser intimidador para pessoas mais velhas e crianças que querem usá-los”, explicou Imanishi. “Queríamos que o Nuvo soasse mais natural, com um tom de conversa normal”.
A próxima versão do Nuvo, esperada para o próximo ano, será capaz de ler compromissos em um calendário e recitar e-mails, relatos do trânsito e manchetes da internet. O mais importante, a próxima versão do Nuvo terá características mais humanas. A ZMP acredita que isso ajudará a unir máquinas e pessoas.