A Praça da República dos meus sonhos
Roberto Piva
A estatua de Álvares de Azevedo é devorada com paciência pela paisagem de morfina
A praça leva pontes aplicadas no centro do seu corpo
E crianças brincando na tarde de esterco
Praça da República dos meus sonhos
Onde tudo se fez febre e pombas crucificadas
Onde beatificados vem agitar as massas
Onde Garcia Llorca espera seu dentista
Onde conquistamos a imensa dossolação dos dias mais doces
Os meninos tiveram seus testículos espetados pela multidão
Lábios coagulam sem estardalhaço
Os mictórios tomam lugar na luz
Os coqueiros se fixam onde o vento desarruma os cabelos
Delirium Tremis diante do paraíso
Bundas glabas sexo de papel
Anjos deitados nos canteiro cobertos de cal
Água fumegante nas privadas
Cérebros sulcados de acenos
Os veterinários passam lentos, lendo Dom Casmurro
As jovens pederastas embebidos em lilás
E putas com a noite passeando em torno de suas unhas
Há uma gota de chuva na cabeleira abandonada
Enquanto o sangue faz naufragar as corolas
Oh, minhas visões
Lembranças de Rimbeaud
Praça da República dos meus sonhos
A última sabedoria debruçada numa porta santa.
1 Comments:
Cara, é muito legal que você se interesse por esse grande poeta brasileiro, mas a versão do seu blog está com problemas em relação aos versos, a certas palavras e a formatação. Pelo menos é o que eu percebi ao ler o poema na versão do livro "26 poetas hoje".
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